Resenha da Semana: A garota dinamarquesa, de David Ebershoff

Resenha da Semana: A garota dinamarquesa, de David Ebershoff

BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS
Setor de Empréstimo Domiciliar

EBERSHOFF, David. A Garota Dinamarquesa. Rio de Janeiro: Fábrica231, 2016

David Ebershoff é escritor, editor e professor americano que escreveu seu primeiro romance “A garota dinamarquesa”, responsável por ganhar alguns prêmios, dentre eles o “Rosenthal Foundation Award” da Academia Americana de Artes e Letras. A garota dinamarquesa foi publicado em 2000, com o nome “A garota de Copenhagen”, e provavelmente foi modificado devido ao lançamento do filme em 2016 e recebeu o nome do livro como ele é atualmente. O livro é baseado em uma história real, e David deixa bem claro, em declarações no final da obra, que o romance conta com algumas adaptações feitas por ele, de forma fictícia, pois houve lacunas durante o seu período de pesquisa sobre os personagens principais.

A garota dinamarquesa é um romance delicado e sensível, que se inicia contando a história de um casal de pintores que moram em Copenhagen, na Dinamarca. Einar Wegener era conhecido por pintar lindas paisagens e pântanos que são resgatados de sua infância, enquanto sua esposa Greta é reconhecida por pintar parte da burguesia, pessoas importantes da sociedade de sua época tanto na Dinamarca quanto na França. A história desse casal começa a se desenrolar quando Greta precisa terminar o retrato de uma de suas modelos e, para não perder um dia de trabalho, pede auxílio ao seu marido Einar, já que ele tinha o biotipo similar de uma delas. Ele se veste com as roupas da modelo, para que Greta consiga desenvolver e finalizar seu quadro. Esse é o acontecimento mais importante para a história, pois foi exatamente nesse momento em que Einar se vê como uma mulher, depois disso, tudo se transforma e fica diferente para ele. 

Com uma sutil transformação, Lili entra na vida do casal e se torna peça chave para a história dos dois. O autor teve total controle sobre como desenvolver a mudança de personalidade de Einar e Lili, deixando o leitor um pouco confuso sobre a personalidade de Einar em alguns momentos, como se ele tivesse sido Lili durante toda a sua vida, e precisasse apenas daquele momento para que algo fosse libertado dentro de si. No decorrer do livro você torce muito para que Greta consiga passar por tudo isso, sem se machucar, o que se prova impossível, devido à situação em que se encontra, mas ela, com um jogo de cintura impecável, coloca todo o seu amor pelo marido, acima de qualquer outra coisa, e ajuda Einar a passar por todo esse processo de descoberta (que não foi fácil). 

Após a adaptação do livro nos cinemas, houve algumas críticas sobre a personagem de Lili tomar conta e dominar Einar. O que acontece, diferente do filme, é que o livro aborda a vida de Einar de uma forma mais profunda e mostra como foi a sua vida antes de tudo isso acontecer, principalmente sua relação com seu pai e um amigo de infância, que por coincidência ele encontra como Lili, e assim, as peças do quebra cabeça são perfeitamente encaixadas. Lili foi se tornando algo cada vez mais presente na vida de Greta, e Einar conseguiu decidir que seria uma pessoa diferente e assumiria seu gênero feminino de forma definitiva. A partir disso, Greta começa uma jornada incansável para descobrir um médico competente e que estivesse disposto a fazer o tipo de cirurgia que Einar precisaria. 

Greta encontra um médico que era especialista em cirurgias de mudanças de sexo, bem controversas naquela época e vistas com maus olhos pela maioria. Einar foi a segunda pessoa do mundo (de acordo com estudos do autor) a fazer esse tipo de cirurgia. Após a cirurgia de mudança de sexo, é evidenciada de forma bem clara a vulnerabilidade e fragilidade de Lili, que por mais complicados que possam ser sua recuperação e retorno à vida normal, é visível sua felicidade e seu sentimento de pertencimento ao mundo de forma completa. Agora ela é representada em 100% e não só uma parte de Einar. Com o decorrer da leitura, fica claro a passagem que é feita e como ele é incorporado totalmente por Lili e somente ela fica em evidência. Não há mais conflitos entre os dois; somente ela começa a viver de forma integral. É nítido que existe nesse casamento um triângulo entre Greta-Lili-Einar, e que Greta esteve presente e foi, em muitas vezes, a força que Einar procurava e precisava. 

O livro tem um final surpreendente e emocionante. Foi lindo ver o desenrolar da história e foi possível sentir todos os sentimentos que Lili sentia e que Greta teve que aprender a sentir. Ela decidiu amar o marido, mesmo sabendo que ele, em algum momento, não existiria, e seria fiel a Lili por toda sua vida, e assim foi. 

O filme foi lançado em 2016 e teve um grande time de atrizes e atores, como Eddie Redmayne representando de forma excepcional Einar-Lili, e Alicia Vikander representando Greta, que era chamada no filme como “Gerda”, e que foi a ganhadora do Oscar em 2016 de Melhor Atriz Coadjuvante. A garota dinamarquesa traz um romance cheio de amor, companheirismo, cumplicidade e abdicação. Um romance leve, sutil, e delicado como as pinturas de Einar.

Resenha por Laura de Freitas Tartaglia Reis
Servidora do Setor de Empréstimo da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais 

 
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