BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS
Setor de Empréstimo Domiciliar
HARDING, John. A menina que não sabia ler. São Paulo: Leya, 2010. 282 p.
John Harding saiu de sua cidade natal e, após a faculdade, mudou-se para Londres onde trabalhou como repórter. Depois de se tornar editor em algumas revistas populares da época, se tornou freelancer em 1985 para então realizar o seu sonho em ser romancista. O autor teve seu primeiro livro publicado em 2000, que foi adaptado para a TV em 2006. “A menina que não sabia ler” teve sua publicação em 2010. Sabe aquele livro que você escolhe pela capa, por achar que vai ser um tipo de história e aí você é completamente surpreendido e acaba lendo um livro de suspense, que tem um final completamente ambíguo? Apresento-lhes “A menina que não sabia ler”.
No início da trama, somos introduzidos aos personagens principais, uma linda garotinha chamada Florence e seu irmãozinho Giles, que ficaram órfãos e foram morar na casa de seu tio, que era também o tutor dos dois. A mansão do tio era enorme, cheia de lugares ocultos e esconderijos perfeitos para Florence. A história se passa em 1891, então os costumes são completamente diferentes do que estamos habituados. Mas naquela época, era comum que as mulheres fossem educadas em casa e aprendessem coisas úteis para a manutenção do lar e para os cuidados com a família, como bordar, passar, lavar, cozinhar; enquanto para os homens a educação era algo primordial.
O tio dos garotos era extremamente ausente, nunca aparecia na mansão, e nem se preocupava com eles. Os dois eram cuidados pelos empregados que viviam no lugar e conheciam muito bem o dono da casa. E como era de se esperar, Florence sabia que ela e seu irmão estavam sozinhos no mundo e estava disposta a defendê-lo de tudo e de todos. Com a proibição de aprender a ler ou escrever, e com seu irmão ausente, que foi estudar em um internato, Florence começa a explorar a mansão e descobre uma biblioteca lotada de livros interessantes e, obviamente, proibidos para ela. Mas ela estava disposta a se arriscar, ela queria aprender a ler mais que tudo e começou a se familiarizar com as letras e palavras. Em um determinado ponto da história, começamos a achar que Florence poderia encontrar um amor em seu vizinho, um garoto asmático que sempre a visitava.
Mas infelizmente ela não teve interesse no garoto e ficamos na dúvida se um dia ele se interessou por ela além da amizade e companheirismo. Aliás, esse livro faz exatamente isso com a sua mente, em vários momentos. Como contado anteriormente, o irmão de Florence, Giles, estava estudando em um internato, mas acabou não se adaptando muito bem aos métodos de ensino, e teve de voltar para casa. Para continuar seus estudos, o tio dos garotos contratou uma preceptora, que é uma espécie de babá e professora. Infelizmente essa primeira preceptora não teve um final muito feliz, pois morreu afogada no lago, de um jeito muito misterioso.
Como a educação de Giles era muito importante, outra preceptora foi contratada para continuar os estudos do garoto. O que ninguém esperava era que Florence estava começando a ter algumas percepções sobre a atual babá do irmão. O livro em vários momentos te deixa com a sensação de ambiguidade, e você não sabe ao certo se o que está acontecendo, ocorre somente nos devaneios de Florence ou estão realmente acontecendo com seu irmão. E um desses “devaneios” é que a garota acredita, com a sua vida, que a atual professora de seu irmão está fazendo de tudo para sequestrá-lo. A partir disso, a garota começa a arquitetar vários planos para afastar de uma vez por todas a professora de perto do seu irmão e de suas vidas. A maturidade, a frieza e a astúcia de Florence assustam um pouco o leitor que não é muito acostumado em ver esse tipo de temperamento em uma criança de 12 anos. Mas essas são as principais características de Florence.
O final é ambíguo e dá margem a interpretações, como a leitura de Dom Casmurro, por exemplo. Florence seria capaz de planejar algo que atentasse contra a vida da atual professora de Giles, ou os planos seriam mais leves, só para que a babá se assustasse e pedisse demissão do cargo? Um livro surpreendente, levemente angustiante e com um ar sombrio. Essa é a melhor definição dessa obra que, por incrível que pareça, é considerado um romance.
Resenha por: Laura de Freitas Tartaglia Reis
Servidora do Setor de Empréstimo da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais